O envelhecimento demográfico em Portugal tornou-se um dos fenómenos sociais mais marcantes do século XXI, trazendo novos desafios sociais que urge encarar. A verdade é que proporção de pessoas com mais de 65 anos continua a aumentar de forma constante, criando uma procura crescente por serviços de apoio a idosos.
No centro desta resposta social estão os trabalhadores migrantes, cuja contribuição é essencial para garantir cuidados diários, acompanhamento e dignidade a milhares de cidadãos.
Achar que esta não é a solução para alavancar o setor, é não compreender as dificuldades que ameaçam a sua sustentabilidade, sobretudo devido à escassez de mão de obra disponível.
Os trabalhadores migrantes desempenham funções indispensáveis em lares, centros de dia e serviços domiciliários. São eles que asseguram a higiene pessoal, ajudam na alimentação, prestam apoio emocional e proporcionam companhia diária aos idosos. Muitas destas funções exigem uma dedicação intensa e uma disponibilidade permanente, já que cuidar de pessoas dependentes implica uma responsabilidade constante.
Em Portugal, existe uma longa tradição de integração de profissionais provenientes de diferentes países, como Brasil, Cabo Verde, Ucrânia, Nepal ou Índia. Estes trabalhadores, além de preencherem postos de trabalho que muitas vezes não atraem candidatos nacionais, trazem diversidade cultural e experiências que enriquecem as equipas e contribuem para uma abordagem mais humana ao cuidado.
Sem o seu contributo, grande parte das instituições sociais não conseguiria dar resposta às necessidades básicas dos idosos. E são muitas.
1. Cuidados pessoais e de higiene
Inclui apoio no banho, higiene íntima, mudança de fraldas, cuidados com a pele, higiene oral, vestir e despir. Este é um dos serviços mais procurados, especialmente para idosos com mobilidade reduzida ou em situação de dependência parcial ou total.
2. Administração de medicação
Envolve a organização e administração correta da medicação prescrita, assegurando o cumprimento dos horários e das dosagens. Em alguns casos, são também prestados cuidados de enfermagem, como a aplicação de injetáveis, medição de tensão arterial e controlo de diabetes.
3. Acompanhamento e companhia
Trata-se de um serviço muitas vezes subestimado, mas essencial. Inclui conversas, leitura, passeios curtos, acompanhamento a consultas médicas ou idas ao supermercado, promovendo o bem-estar emocional e combatendo o isolamento social.
4. Serviços domésticos leves
Apoio na limpeza básica da casa, preparação de refeições, lavandaria e organização do espaço doméstico. O objetivo é manter um ambiente limpo, seguro e funcional para o idoso.
5. Serviços especializados (fisioterapia, enfermagem, terapia ocupacional)
Algumas empresas privadas oferecem serviços complementares de saúde e reabilitação, como fisioterapia ao domicílio, cuidados de enfermagem e terapia ocupacional, realizados por profissionais qualificados.
6. Cuidados 24 horas e serviço de permanência
Algumas famílias contratam apoio contínuo, com cuidadores a pernoitar ou a fazer turnos rotativos para garantir assistência permanente, sobretudo em situações de maior fragilidade ou risco.
Porquê esta dependência?
A crescente dependência de trabalhadores migrantes deve-se a diversos fatores. As condições de trabalho no setor social são frequentemente exigentes, com horários prolongados e uma sobrecarga emocional que afasta muitos profissionais portugueses.
Por outro lado, os salários praticados são, na generalidade dos casos, pouco competitivos quando comparados com outras áreas de atividade. Perante esta realidade, os trabalhadores migrantes mostram disponibilidade e motivação para assumir funções que garantem a continuidade dos serviços.
Esta realidade, embora fundamental para o bem-estar dos idosos, evidencia também um desequilíbrio estrutural no mercado de trabalho português. Sem políticas eficazes de valorização profissional, será cada vez mais difícil atrair e reter trabalhadores migrantes que garantam o normal funcionamento das instituições.
A escassez de mão de obra e os desafios do futuro
O setor social atravessa atualmente uma fase crítica. Apesar da elevada procura por serviços, a escassez de mão de obra disponível para preencher vagas está a tornar-se um problema sério.
Muitos destes profissionais optam por emigrar novamente, desta vez para países europeus que oferecem melhores condições salariais e contratos mais estáveis, como a Alemanha, o Reino Unido ou a França. Esta concorrência internacional agrava a dificuldade em manter equipas completas e experientes.
Além disso, os processos de legalização e obtenção de autorização de residência continuam a ser lentos e complexos. Muitos trabalhadores migrantes esperam meses até regularizarem a sua situação e poderem exercer funções de forma plena e com acesso a direitos sociais básicos. Esta instabilidade afeta não só a vida dos próprios profissionais, mas também o planeamento das instituições que deles dependem.
Se estas barreiras não forem superadas, Portugal corre o risco de não conseguir responder à crescente necessidade de cuidados de longa duração. A incapacidade de atrair trabalhadores migrantes pode traduzir-se na redução do número de utentes acompanhados, no aumento das listas de espera e na degradação das condições de atendimento.
O compromisso diário destes profissionais (independentemente da sua origem) assegura a dignidade, a saúde e o bem-estar de milhares de pessoas. Reconhecer o seu valor e criar condições para a sua permanência não é apenas uma questão de justiça social. É uma prioridade estratégica para responder aos desafios do envelhecimento da população.