Quando falamos de envelhecimento, muitas vezes focamo-nos em questões como mobilidade, alimentação, medicação ou solidão.
No entanto, há um aspeto igualmente importante que raramente é discutido e que é a sexualidade na terceira idade. Este tema continua envolto em tabus, mas é essencial compreendê-lo com empatia e abertura, sobretudo para quem cuida de pais ou familiares idosos.
A sexualidade não tem idade
Contrariamente a ideias pré-concebidas, o desejo de intimidade e afecto não desaparece com o tempo. A sexualidade no envelhecimento pode assumir diferentes formas, desde a partilha de momentos íntimos, como um abraço ou uma carícia, até à vivência plena da sexualidade em si. Esta é uma dimensão da vida que está ligada ao bem-estar emocional, autoestima e qualidade de vida.
À medida que os anos passam, o corpo muda, e com ele também mudam as necessidades e experiências relacionadas com a sexualidade. No entanto, isso não significa o fim da vida sexual. Pelo contrário, muitos idosos continuam a valorizar os momentos de intimidade, ainda que com ritmos e expressões diferentes.
O papel da família: escuta e respeito
Para filhos e outros familiares, é importante reconhecer que a sexualidade dos seus entes queridos mais velhos é uma parte legítima da sua identidade. Escutar sem julgar, respeitar os seus desejos e necessidades e evitar atitudes paternalistas pode fazer toda a diferença.
Infelizmente, em muitos contextos (incluindo instituições ou domicílios com apoio domiciliário) os idosos sentem que a sua sexualidade é ignorada ou desvalorizada. Em alguns casos, podem até sentir vergonha ou constrangimento por expressarem sentimentos românticos ou íntimos. Este silenciamento pode contribuir para o isolamento e para a perda de autoestima.
Profissionais sensíveis e bem preparados
Num serviço de apoio a idosos, é fundamental que os cuidadores e assistentes estejam preparados para lidar com este tema com sensibilidade e profissionalismo. Mais do que tolerância, é necessário promover um ambiente onde os idosos sintam que podem ser eles próprios, com as suas emoções, memórias, desejos e necessidades.
Daí ser fundamental uma abordagem centrada na pessoa, que respeite a individualidade e os direitos de cada utente. Isto inclui reconhecer a sexualidade como parte do bem-estar global do idoso. Os profissionais da área do apoio a idosos devem receber formação para interagir com empatia e discrição, respeitando sempre a dignidade de quem cuidam.
Abrir espaço para o diálogo
Falar sobre sexualidade na velhice é um passo importante para combater estigmas, desconstruir preconceitos e promover uma vida mais plena e feliz. A sexualidade, nesta fase, pode assumir novas formas e ritmos, deixando de estar centrada apenas no ato sexual e passando a incluir gestos de carinho, intimidade e conexão emocional que reforçam a autoestima e a saúde mental.
No entanto, muitos idosos sentem-se constrangidos ou receiam ser julgados, o que leva ao silêncio e ao isolamento. Se tem dúvidas ou receios em relação a este tema no contexto do cuidado de um familiar idoso, não hesite em procurar apoio especializado, seja junto de médicos, psicólogos ou grupos de apoio.
O diálogo aberto e respeitoso entre familiares, cuidadores e profissionais de saúde é essencial para garantir que os idosos vivem esta etapa da vida com dignidade, conforto e bem-estar, reconhecendo que o direito à expressão da sexualidade acompanha todas as idades.